
A história do Poraquê






O primeiro barco à energia solar da Amazônia faz seu primeiro teste
nas águas espelhadas do rio Negro
Texto e foto: Fernando Esselin
O empresário de São Paulo-SP Claudio Ramenzoni, dono do barco Poraquê – que significa “peixe elétrico” na linguagem indígena – acredita que sua iniciativa de usar energia solar na embarcação pode gradativamente mudar o cenário da região amazônica, que usa eminentemente fontes de energia derivadas do petróleo na prática de pesca esportiva. “Essa é minha pequena contribuição para a natureza”, diz Claudio. O Poraquê ainda não é 100% movido à energia solar, pois a tecnologia ainda está em fase de teste e não tem escala industrial. Mas toda a parte de hotelaria do barco, como ar condicionado, freezer, geladeira e iluminação, é alimentada por placas solares suíças importadas pelo empresário. E como as placas suprem essa parte do consumo de energia, não há necessidade de gerador. Assim, com o barco parado evita-se o ruído intenso que o gerador produz, incomodando a fauna, os turistas e a tripulação, que dorme em redes perto do motor. Antes mesmo de sair do porto, grupos ligados à pesca esportiva já estão fazendo reservas para o período de temporada que vai de agosto a fevereiro. “Cada vez mais a saúde ambiental do empreendimento agrega valor ao negócio”, complementa o empresário. Cientistas, fotógrafos, observadores de pássaros e ecoturistas em geral também são público-alvo do Poraquê.
O Barco
O Poraquê tem 17x4 metros de tamanho, estilo regional baleeiro, ou seja, com calado baixo para navegar também quando as águas estão
baixas (até 70 cm de profundidade). A infra do barco conta com três quartos que acomodam até seis turistas, com deque com vista panorâmica, serviço de hotelaria com camareira, cozinheira e três piloteiros, um para cada voadeira, que leva os pescadores em busca do tão sonhado “peixão”, principalmente o cobiçado tucunaré-açú. Os pescadores fisgam o peixe, fotografam e depois o soltam novamente no rio. Muitos deles dizem já ter pescado o mesmo peixe mais de cinco vezes.
Estava junto na embarcação o pantaneiro de Aquidauana Adão Bonifácio Barros, de 87 anos, passageiro que teve a gentileza de nos acompanhar
na expedição e mostrar que é possível mudar de mentalidade mesmo
sendo de outra geração. Seu Adão já foi caçador de onça, pescador predatório e hoje, com sorriso de menino, sente prazer em pescar e devolver o peixe para a natureza. Um exemplo de ecoturista.
Diário de Bordo
Voamos de São Paulo para Manaus e no dia seguinte embarcamos em um barco de linha – chamado localmente de “recreio” – até Barcelos-AM,
em 12 horas de navegação. É uma espécie de ônibus fluvial. É possível fazer este trajeto de avião em 50 minutos.
Chegamos à pequena cidade portuária que já foi capital do estado do Amazonas e hoje serve de base para a chegada de pescadores das mais diversas regiões do mundo em busca da pesca esportiva. As pessoas
são educadas, as crianças têm sorriso fácil e remam suas canoas como “gente grande”. Tudo gira em torno do rio Negro: as brincadeiras, o comércio de peixes ornamentais, o transporte de carga... O rio é a estrada,
a cultura, a fonte de renda e a paixão da cidade.
Teste drive e contemplação
Assim que conhecemos o barco, foram testadas as placas solares
e estava tudo ok. Depois, foi comprado todo o suprimento para uma semana de viagem subindo o rio Negro e seus afluentes Aracá e Domeni.
O destino de cada expedição depende dos clientes e vai sendo moldado
de acordo com as condições climáticas, de estação e concentração
de cardumes. Nossa viagem foi feita fora de temporada de pesca para que o barco esteja impecável para a alta estação.
Como o período é de cheia, seguimos longos trajetos rio Negro acima, vendo como os equipamentos se comportavam, fotografando a exuberância da natureza amazônica e visitando algumas comunidades ribeirinhas, como a do Romão, onde moram 17 famílias da etnia Baré. Em outros momentos saíamos de voadeira em “canais” e navegávamos dentro das florestas inundadas, formando imagens espelhadas, exóticas e poéticas. Um paraíso para quem entende que o homem é parte inseparável de tudo que é natural, assim como o sol, ofertando energia para as aventuras ecológicas.
Para mais informações acesse o site: www.poraquesolar.com.br
Declaração de especialista
Na sexta edição do Salão de Turismo, o presidente na Associação Nacional de Ecologia e Pesca Esportiva (ANEPE), Helcio Honda, destacou o potencial para o desenvolvimento da pesca esportiva no Brasil, considerando o tamanho de sua costa, o tamanho de suas bacias hidrográficas e, principalmente, a quantidade de peixes esportivos existentes.
Destacou os dados publicados no Nature Survey of Fishing, Hunting and Wildlife Associated Receration-2006 sobre a pesca esportiva nos Estados Unidos, segundo o qual são quase 35 milhões de norte-americanos
adeptos da pesca amadora esportiva, sendo 25,4 milhões de água doce e 7,7 milhões de água salgada, gerando um retorno de mais de 42 bilhões de dólares, incluindo despesas com viagens, hotéis, alimentação, equipamentos etc.. O Brasil infelizmente ainda não tem dados detalhados sobre este tema.
(fonte: site ANEPE)