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Glaciar San Rafael

A muralha da Patagônia chilena

O silêncio é rompido pelo estrondo dos imensos blocos de gelo, formados há milhares de anos, que se rompem do paredão
de gelo, a uma altura de até 80 metros e mergulham na água. Belo e aterrorizante! Principalmente quando se
está a bordo de um pequeno bote, próximo da geleira

Texto e fotos Jorge Toth

 

A onda no lago, originada pela queda do bloco, segue em nossa direção. Tenho pouco tempo para registrar o momento em que o bloco de gelo irá imergir para, em seguida, cuidar da minha segurança e da dos demais tripulantes do bote. Tudo acontece muito rápido. De repente, vejo através da lente diversos tons de azul incrustados na imensa rocha gelada que brota da água. Enquanto faço a foto, ouço minha guia dizer que a cor azul-escura indica que se trata de um “gelo” muito antigo. “A idade estimada dessa geleira é de 30 mil anos”, completa Silvia Barrios.

O Glaciar San Rafael é a maior das 19 geleiras que compõem o Parque Nacional Laguna San Rafael. Descoberto no dia dedicado ao santo, em 1760, possui 1.600 metros de largura, altura que pode chegar aos 80 metros acima da linha d'água e profundidade de aproximadamente 230 metros. Atrás deste imenso paredão de gelo ainda se encontra o imponente
Cerro San Valentin, com 4.058 metros de altitude, que teve seu cume conquistado em 18 de dezembro de 1952, pelo Club Andino Bariloche. Somente por esses detalhes a exploração já valia a pena. Mas,
a viagem começou dois dias antes, em Santiago, capital do Chile, que oferece vários atrativos para os turistas, onde pernoitamos.

Na manhã seguinte embarcamos pela Lanchile, e após uma rápida escala em Puerto Montt. Chegamos a Balmaceda, cidade mais antiga da região de Aisén, no Sul do país. Pequena, tranquila e charmosa, é o ponto de partida para Chacabulco. Vale a dica da impressionante vista dos lagos e vulcões da Cordilheira dos Andes, durante o voo. Após desembarcar minha bagagem no minúsculo aeroporto, seguimos pela Carretera Austral por aproximadamente 250 quilômetros. Logo no início do percurso, reparei
que a estrada é dividida em duas realidades: a primeira, uma drástica mudança de cenário: a imensa mata verde, avistada pelo avião, foi substituída por vastos campos sem vegetação, com terra escura e diversos troncos secos espalhados pelos campos. Segundo meu guia, esse
cenário é o resultado de incêndios que duraram quase dez anos, que consumiu milhares de hectares em toda região.

A segunda realidade é observada no trecho próximo de Coyhaique – capital da região de Aisén, fundada em 1929, a região é formada por rios, lagos, montanhas e campos quase sempre cobertos pela neve –, até Puerto Chacabulco, no extremo sudeste do Fiorde Aisén. Ali, a estrada é cercada por montanhas rochosas e pela Cordilheira dos Andes, e acompanha o rio Simpson, que forma várias quedas d'água em todo o seu percurso. Nessa região, começam a aparecer imensos vales verdes, floridos com margaridas amarelas e lavandas lilases. Ao fundo, vejo a Cordilheira dos Andes com seus picos eternamente nevados. Do outro lado da carretera, aparecem íngremes montanhas rochosas e ranchos com casas de madeira pintadas em cores chamativas. Carneiros, lhamas e cavalos vivem soltos pelo pasto.

A chegar a Puerto Chacabulco, encontro uma vila de pescadores que se assemelha a um vilarejo típico de filme norueguês. Faço um reconhecimento e descubro que o “único” ponto de encontro é o bar/restaurante/boate, onde as pessoas conversam enquanto saboreiam deliciosas empanadas, regadas a cerveja “in natura” – gelada. Experimente a de carne e queijo, é impossível comer apenas uma. Algumas empanadas depois, me registro no Loberias Del Sur, confortável hotel todo em madeira e com deliciosa cozinha. O Loberias mantém o Parque Aiken del Sur, uma área preservada com várias plantas e árvores nativas e oferece três trilhas. A Sendero del Rio, com 2.030 metros, é a mais longa e termina no Salto Barba del Viejo, com
22 metros de queda. Após a caminhada fomos recebidos no restaurante do parque, com um ótimo assado ao som de músicas e danças típicas.

Na manhã seguinte, no píer que fica à beira do Fiorde Aisén, embarco no Catamaranes Del Sur, conforto e tecnologia em um barco de 50 pés – cerca de 17 metros, com capacidade para até 70 pessoas. Possui dois deques:
o superior, que mais parece um lounge, é equipado com sala de estar, bar
e saídas laterais para os tombadilhos superiores – ideais para observação;
e o inferior, com poltronas individuais onde são servidas as refeições.

A viagem rumo ao glaciar durou cinco horas, no trajeto, cruzamos com várias ilhas, alguns vulcões, canais estreitos dos famosos fiordes patagônios – cercados por imensas florestas. A navegação exige cautela e atenção do comandante; pois deparamos constantemente com blocos de gelo de tamanhos variados boiando ao longo do percurso.

No último trecho do caminho, passamos pela Bahia dos Exploradores, onde é possível avistar a primeira geleira. Segundo o capitão, a temperatura da água neste local é de 2°C. Para nós, pode ser fria, mas não parece incomodar os diversos leões-marinhos e pinguins, tradicionais habitantes da região. Muito menos a solitária baleia que nos acompanha. A bordo, dentro da cabine – o lugar mais “quente” do catamarã – a temperatura média é de 8°C; já do lado de fora, com o vento, a sensação térmica é abaixo de zero.

Quando o barco entra no lago onde está o Glaciar San Rafael, minha reação é igual à dos demais passageiros: uma mistura de espanto e admiração
pela natureza. Fico alguns minutos com o olhar fixo na geleira e tento calcular quanto tempo foi necessário para se criar um glaciar de tamanha proporção. Meu pensamento volta à realidade quando ouço a âncora se chocar nas geladas e tranquilas
águas da baia.

Atento para as instruções sobre os procedimentos de segurança.
Sou um dos primeiros a embarcar no bote que nos levará o mais próximo possível da geleira. São momentos de pura satisfação e realização;
o bote se aproxima, aciono o disparador da máquina e registro cenas incríveis. Ao retornar para o barco, sou recepcionado com um brinde. Cortesia do capitão, servido, segundo ele, com gelo milenar. Durante nossa conversa, ele me confidencia que, tivemos sorte porque, naquela região,
é comum o tempo estar fechado e chuvoso. E diz ainda que o sol “aparece” por lá apenas 15 dias por ano. Quando zarpamos de volta a Puerto Chacabulco, confirmo a minha boa sorte: o sol nos acompanha durante todo o percurso. Olho para o relógio, são quase 22 horas. Na primavera,
os dias são longos: o sol nasce às 6 horas e se põe às 22 horas. Haja sorte!

 

Patrimônio da humanidade

Com numerosas áreas silvestres protegidas, algumas inscritas como Reservas da Biosfera pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), caso do Parque Nacional Laguna San Rafael declarado em 1979, e ocupa uma área de 170 quilômetros quadrados. Outra grande parte do território da Patagônia Chilena é considerado Patrimônio da Humanidade na Unesco. Essa região representa hoje um dos espaços mais importantes do planeta, já que possui características únicas em relação a seus ecossistemas, tornando-se área
de grande interesse de conservação, tanto científicas como turístico.
Os glaciares, montanhas, rios, lagos, fiordes, ilhas, bosques, estepes e alagadiços que a formam, constituem uma das reservas de água doce mais importante da terra e um patrimônio natural não só do Chile, mas de toda humanidade. Local de grande biodiversidade, que abriga ecossistemas e numerosas espécies de plantas e animais, alguns ainda desconhecidos. 

 

Serviços

Como ir: tem voos diários para Balmaceda, saindo da capital Santiago, 
com escala em Puerto Montt. Durante o voo, você terá uma vista impressionante dos lagos e vulcões da Cordilheira dos Andes.

O que levar: para se proteger dos fortes ventos da região, leve casaco corta-vento; e para enfrentar o clima instável, recomendo capa de 
chuva. Leve também roupas adequadas para caminhadas, como calçados confortáveis, óculos escuros, chapéu, protetor solar e uma pequena 
mochila. A capa também será útil para a sua proteção contra a água, durante o passeio de bote.

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